O pescador de ilusões (Contos)

O que aconteceria se soubéssemos nosso futuro?

Por que nascemos e morremos?

E se inventassem uma máquina para gravar os pensamentos e sonhos?

Para Dadinho, um garoto da periferia de Fortaleza, estas questões pareciam não ter fim.

Tantas vezes sua mãe, lavadeira de mão cheia, retrucava com o menino dizendo para ele se preocupar com coisas de sua idade.

Não adiantava. Futebol, botão e bicicleta não faziam muito sentido para um menino que parecia ter nascido no lugar errado.

Até comentavam pelo bairro que ele não era filho legítimo de Dona Lurdes com Seu Neto. “Foi trocado na maternidade, com certeza. O moleque nem se parece com eles”, diziam.

Mas, para Dadinho isso pouco importava. Ele só queria saber o por quê das coisas. E de inventar histórias.

Ah! Isso ele sabia muito bem! E por isso era chamado de mentiroso por todos da rua. O que ele falava nunca se sabia se era ou não verdade.

Após as férias, ao retornar para seu local preferido, sua professora pediu para contar para a classe o que acontecera de mais importante nos seus dias de folga.

Dadinho, com toda sua elegância, antes de se levantar da cadeira amarrou seu Kichute e se dirigiu para a frente da classe.

Os olhos de todos seguiam o garoto. Ele não era bom em algumas matérias, mas contar histórias ele sabia. Até mais que a professora, comentavam.
“Foi num dia de domingo”, começou. “Eu e meu bisavô fomos pescar de barco num rio que dizem não ter fim.

Era de noite e depois de um dia inteiro de pescaria, o barco não agüentou o peso de tanto peixe que pescamos e rachou ao meio.

Tivemos, então, que nadar por várias horas até uma praia, numa ilha deserta, há muitos quilômetros dali.

Chegando lá, encontramos uma lâmpada escondida na areia, daquelas de gênio mesmo e para nossa surpresa tinham dois dentro!

Mas, vocês acreditam que eles eram tão muquiranas que só queriam dar um desejo?

Tivemos que pedir para voltar para nossa casa e quando percebi, num abrir e fechar de olhos, eu estava no meu quintal com o Bilú, meu cachorrinho que não me deixa mentir.

Mas, só veio eu. Meu bisavô ficou. Depois desse dia nunca mais vi ele. Acho que ele morreu ou ficou com os gênios. Foi isso...”

Triste e cabisbaixo se dirigiu de volta para sua carteira escolar.

A classe emudeceu, alguns por luto em respeito ao bisavô de Dadinho.

Lágrimas ameaçavam desaguar por alguns olhinhos e a professora, por instantes, voltou a ser criança.

Outros, naquele silêncio onde se ouvia até o tic-tac do velho relógio na parede, se entreolharam e perguntaram telepaticamente por que ainda não tinham ido pescar com Dadinho.

Autor: Ed Rodrigues

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